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semprenobre

A nossa crise é espiritual

Atualizado: 22 de ago.




A humanidade está a atravessar uma grande crise. Nietzsche previu isto em "Assim falou Zaratustra" quando o louco sai à rua a proclamar a morte de Deus. Porém, ao contrário do que muitos imaginam, esta proclamação não veio com orgulho, mas com temor. "E agora?" Perguntava o louco. "E agora?"


Muitas pessoas costumam dizer que nunca na história se viveu tão bem como nos nossos dias. Apesar de entender e concordar, essa afirmação sempre me incomodou. Demorei a perceber porquê, mas cheguei lá. Materialmente falando, é verdade. Nunca tivemos tantas facilidades práticas, calorias disponíveis, um tecto, respostas a muitas das maleitas que desde sempre nos afligem e a outras, novas, fruto dos nossos tempos. Contudo, espiritualmente falando, estamos pobres, muito pobres. Espiritualmente falando, somos sem-abrigo, e isso nota-se. Nota-se na corrida para fora, na avidez com que pegamos nas redes sociais para procurar validação, na urgência em estar ocupado, a fazer coisas, tudo para que não sejamos confrontados com o vazio existencial, com o tédio, em suma, connosco mesmos.


Uma frase muito conhecida diz que o mal do mundo nasce do facto do homem não ser capaz de se sentar 10min em silêncio. Procuramos fora as respostas que só existem dentro. Jesus diz que o Reino de Deus não vem com aparência exterior, em Lucas 17:20. O céu existe dentro. Mas a viagem interior é árdua e dolorosa e muitas vezes é mais fácil olhar para fora e encontrar pensos rápidos para assuntos perenes.


É por isso que digo que a grande crise dos nossos tempos é espiritual. O resto apenas reflecte isso, sejam guerras, instabilidade social, avanços tecnológicos sem qualquer freio ou ponderação. O Homem está numa corrida consigo mesmo, com muito medo de chegar em segundo lugar. E dessa purga pela qual estamos a passar, enquanto espécie, uma de duas coisas acontecerá: ou sairemos com uma consciência expandida e mais cientes do que nos rodeia, sabendo que somos a parte que completa o todo, e o todo que se observa, ganhando uma sensibilidade renovada perante o cosmos, ou nos extinguiremos no processo.


Da maneira que vejo, as coisas continuarão a piorar antes de melhorar. Terrence Mckenna, o psiconauta, etnobiólogo e escritor que ficou muito conhecido como um dos nomes mais sonantes do movimento hippie dos anos 60, afirma que tudo se vai complexificando à medida que nos aproximamos do 'escaton' o evento que marcará o fim dos dias enquanto humanos. Podemos fazer uma leitura trágica ou podemos ver isso como uma hipótese de renovação. Seja como for, será preciso olhar para o nosso interior até que o Big Bang nos seja revelado. O caminho para a unidade é árduo mas não existe outro. A nossa crise espiritual é o hiato necessário para reunir as tropas. Depois de experimentar todos os caminhos, retornaremos à criança que nos aguarda. Só ela será capaz de nos tirar do buraco materialista em que o adulto nos colocou.

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Leandro Leite
Leandro Leite
Aug 21

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